Todos nós temos um preço

Todos nós temos um preço. Num diálogo antológico, Marcos, o personagem estelionatário de Ricardo Darín no épico Nove Rainhas pergunta a Juan, o cúmplice vigarista interlocutor, num banheiro público, se transaria com um homem. Juan diz que não. Então, Marcos pega um punhado de papel toalha, joga na bancada e pergunta se, por dez mil dólares, aceitaria. O interlocutor continua negando até o bolinho de dinheiro fictício chegar aos quinhentos mil dólares. Neste momento, Juan rateia, o breve silêncio denunciando sua dúvida diante da proposta indecente. Marcos Darín conclui, entre realista e sarcástico:

- Não há santos, o que há são tarifas distintas. (...) Putos não faltam, faltam financiadores.

Outro dia, um amigo, com reais perspectivas de mudança para o outro lado do mundo junto com mulher e filho, e preocupado com a possibilidade de não ter um copo para compartilhar no boteco da esquina (na China tem boteco?), um ombro para compartilhar os desgostos do casamento, e animado com o prêmio da Mega-Sena, cerca de 36 milhões de reais naquela semana, resolveu brincar de Marcos.

Depois de ganhar a bolada e de escolher Paris ou uma cidadezinha no sul da Itália como destino da aposentadoria, meu amigo sugere que eu o acompanhe, tal qual uma dama de companhia, mediante certo pagamento mensal depositado em conta corrente aberta especificamente para este fim. Começamos a discutir os termos do contrato e o valor da remuneração, chegando-se à conclusão de que quinze mil euros é um valor justo, afinal, estarei à sua disposição vinte e quatro horas por dia, inclusive para favores sexuais em caso de dor de cabeça da digníssima esposa, tenho curso superior, sou agradável e não faço má figura. Meu amigo regateou um pouco no valor, mas acabou consentindo. Tratou de acalmar-me, dizendo que não ficaria no meu pé, que não exigiria muito dos meus serviços, quaisquer serviços, diga-se de passagem, talvez duas vezes por semana (!). Não há almoço grátis...

Bom, a Mega-Sena acumulou. A próxima vai pagar 45 milhões de reais. Os quinze mil euros viraram dezoito.


E você? Qual o seu preço?


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