O valor da grana

Não conheço criança que goste de ganhar roupa e sapato no dia das crianças, tipo aquela propaganda do menino que, no supermercado, dá um chilique porque a mãe se nega a comprar brócolis “já que tem em casa”. Não é que a criança não tenha consciência de que, sem roupa e sem sapato, toda nudez será castigada, mas, no dia a ela consagrado, nada mais normal do que ganhar aquilo que caracteriza a infância: brinquedos, jogos, doces, o lúdico e o prazeroso da vida.

Neste próximo dia das crianças, a mãe do Miguel não estará por perto (fisicamente). Esperto que ele só e sabedor de que a mãe é quem sempre compra o presente e que o pai só põe o nome na etiqueta, o fedelho exigiu que o pai comprasse um presente por conta própria, além, obviamente, daquele que a mãe providenciará quando a família Sant’Anna Gruman se reunir novamente.

Seguimos para um shopping center perto de casa, com lojas de brinquedos para todos os gostos e bolsos. Fiquei estupefato com os preços cobrados por jogos de tabuleiro de minha infância, tudo para lá de cem reais, duvido que meus pais tenham pago o valor equivalente na moeda da época. Lembram-se do Playmobil? Pois é. Havia umas caixas deste clássico dos anos oitenta por módicos quinhentos reais. Miguel, resignado, olhando para um dos jogos que lhe interessou, lamenta que seja caro e pergunta, meio que por desencargo de consciência, se não dá mesmo para levar. Ele sabe que não dá e fica frustrado, solta um muxoxo.

Então, deparamo-nos com o carrinho de um desses desenhos da Disney, para o qual eu não daria mais do que vinte reais embora a etiqueta me desmentisse, insistindo que a miniatura merecia R$ 119,90. Foi aí que meu filho, demonstrando certa familiaridade com o valor das coisas, perguntou:

- Papai, custa mesmo R$ 119,90? É isso mesmo?

Talvez a etiqueta estivesse errada, talvez fosse R$ 19,90, colocaram um “1” a mais. Mas não, era aquilo mesmo, haja mais-valia, e eu dei uma risada gostosa com a surpresa do Miguel. Depois de rodar por mais uma loja, tentando infrutiferamente encontrar de qualquer jeito algum brinquedo que coubesse no orçamento, decidi fazer um contraproposta. Sugeri que ele escolhesse um lugar bacana para um almoço ou um lanche para comemorarmos o seu dia e, aí a surpresa foi minha, ele aceitou numa boa.


Ganhamos os dois...


Comentários

Anônimo disse…
Me lembro de um dia das crianças quando eu já tinha uns 13 anos e me deram um maio (que na época eu odiava) e uma alpargata (que eu acho o ó, hoje). Meu senso de fantasia está ligado a esta experiência das Trevas.
Anônimo disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandra Pinto disse…
Netucho esperto. Nada como um bom hamburgão na companhia do pai.